Antes da gala final do Fama Show, o cantor angolano Hélvio cuja música eu aprecio, foi convidado a visitar os concorrentes finalistas p’ra trocar impressões com estes e dar-lhes aqela força. Os “famosos” começaram a fazer-lhe perguntas tipo por q dificuldades ele havia atravessado em sua carreira, se sua voz rouca era natural e por aí. Yolanda Ana fez uma pergunta simples e legítima p’ra uma moçambicana mas q deixou o angolano visivelmente, como diriam os brasileiros, encabulado. Eu não sei se foi apenas impressão minha mas, mas o gaj’ pareceu ter sido pego de surpresa q até começou a suar. Ela apenas perguntou o significado de “muchima wami” (não sei se escrevi bem), palavras q fazem parte da letra de um dos seus hits. Ele lá explicou o significado mas ficou claro p’ra mim q o problema é q Hélvio não domina(va) ou não sabia mesmo falar essa língua do lugar de onde ele é oriundo. E não é o q acontece por cá?
Artistas como Neyma, Lizha James e Gabriela, por exemplo, cantam em changane mas não sabem falar a língua, recorrendo à outras pessoas para traduzir as suas letras originalmente escritas na língua de Camões. E a razão por que estas meninas optaram por fazer uso da língua cá da terra agora, não tem na minha opinião nada à ver com algum tipo de consciência patriótica nem nada disso. Tem a ver com a fórmula p’ra vender discos: O primeiro verdadeiro êxito de Neyma foi Nuna wa mina, seguiu-se hi maka ya mil e hoje ela se autoproclama a raínha da marrabenta. Lizha James q cantava essencialmente em português e inglês explodiu quando começou a meter changana em suas letras em temas como Moçambique, nuna wa mina e Já não me dás valor. Podem-se notar nas suas interpretações algumas falhas de pronúncia q muitos consideram propositadas pois “elas sabem falar, estão a gingar, essas meninas da cidade”.
Há algumas luas atrás eu criticava as pessoas q criticavam os q não sabem se expressar nas línguas locais defendendo minha posição pelo facto de q “ muitos de nós não estamos expostos à um ambiente q nos permita estar em contacto com os nossos dialectos”. Sendo essa teoria algo verdadeira, não deixa de ser também verdade q é lamentável q muitos de nós jovens não falemos as nossas línguas locais. Não saber falar a língua dos nossos avôs distancia-nos das nossas origens. Distancia-nos de qem somos. ‘Tas à ver o q é ires visitar a vovó lá no distrito e ela ter q se desdobrar em esforços para se comunicar contigo em pretoguês?
Por isso pá, numa altura em q se pretende resgatar a nossa identidade e nossos valores culturais ainda bem q tá na moda cantar em dialecto. Pode ser um bom começo...